O Airsoft surgiu no Japão durante a década de 1970. Devido a leis muito restritivas, que tornaram praticamente impossível a posse de armas de fogo por civis, os aficionados tiveram que recorrer a armas de pressão(*) para que pudessem adquirir e colecionar seus modelos favoritos sem ter que burlar nenhuma lei.
Assim, quase todas as armas de Airsoft são feitas à semelhança de armamento real: aparência, modo de operação, em alguns modelos até mesmo um peso aproximado e o material de fabricação, incluindo muitas vezes acordos contratuais com fabricantes para a aplicação de logomarcas originais. Na maioria dos modelos, a exatidão de medidas torna possível instalar todos os acessórios disponíveis para as armas de fogo verdadeiras – coronhas, lanternas, apontadores laser, equipamentos óticos, etc. O resultado dessa atenção aos detalhes é que se torna muito difícil, mesmo de perto, discernir entre uma arma de fogo real e uma de Airsoft. Por esta razão é que, em diversos países, a legislação obriga a medidas restritivas, como o uso de cores marcantes no corpo da arma ou, como é o caso do Brasil, a instalação das ponteiras de cano na cor vermelha ou alaranjada, ou a pintura da extremidade do cano nessas mesmas tonalidades. O mesmo realismo, aliado a outras características como o baixo custo de manutenção e municiamento e a baixa periculosidade, transformou o Airsoft em importante recurso de treinamento. Hoje vem sendo cada vez mais utilizado no adestramento e no aprimoramento, seja de forças de segurança, seja de desportistas do tiro ao redor do globo. Em alguns países já existe, inclusive, a modalidade de tiro desportivo com uso exclusivo de pistolas de Airsoft, seguindo as regras de IPSC.

A partir do Japão, num primeiro momento, a modalidade se espalhou para outros países da região com restrições similares à posse e ao porte de armas de fogo: China, Hong Kong, Taiwan, e até a Coréia do Sul e as Filipinas logo se tornaram importantes polos de fabricação dessa indústria. Ainda hoje dominam o mercado e contam com o mais expressivo contingente de praticantes. Os primeiros fabricantes foram empresas japonesas já então consolidadas no ramo de brinquedos: Masudaya, Fujimi, Matsushiro. Os modelos mais antigos eram acionados manualmente, um tiro por vez, e experimentou-se com diversos tipos de projéteis antes de se chegar à padronização de esferas de PVC com 6 milímetros de diâmetro, eficiente em performance e com baixo custo de produção. Mas a ideia não surgiu do nada. Armas a pressão, as populares “BB guns” (de onde o Airsoft tirou o nome para sua munição), que conhecemos como carabinas a ar ou “espingardas de chumbinho”, são populares nos EUA desde o final do século 19, com desenvolvedores como a Daisy Company.

O mercado estadunidense evoluiu e expandiu o conceito para uma variedade de armas de brinquedo. Assim foi que, já na década de 1950, o país contava com grande diversidade de modelos, imitando principalmente as armas clássicas do Oeste Americano, como revólveres Colt e espingardas Winchester, e também armas da então recém-terminada Segunda Guerra. Por motivos óbvios, esses brinquedos substituíam as munições metálicas das “BB guns” por projéteis plásticos inofensivos, alguns com cartuchos que retinham o estojo no disparo, como os da renomada Mattel. Nos anos 1980, a Daisy decidiu comercializar Airsoft nos EUA. Contratou para a fabricação de seus modelos as japonesas Maruzen e Falcon Toy Corporation. O intercâmbio de tecnologias propiciou às empresas japonesas aliar a mecânica das armas de pressão ao realismo de suas “réplicas”, levando à criação das armas de Airsoft como hoje as conhecemos.
Por volta de 1985, fabricantes japoneses adotaram mecanismos movidos a ar-comprimido ou CO2, alimentados por cápsulas no interior das armas ou em câmaras externas. Tratava-se de soluções muito similares às adotadas no Paintball, que ganhava popularidade naquele mesmo período. Infelizmente, uma grave recessão abateu a economia japonesa durante a virada para a década de 1990. Esse fato significou o fim de diversas empresas daquele país, inclusive importantes fabricantes de Airsoft, como a JAC. Um dos resultados da crise foi o declínio na utilização de mecanismos a gás, de modo que, quando da retomada do mercado, já no final daquela década, a principal solução técnica passou a ser o “gearbox” elétrico com baterias recarregáveis das chamadas AEGs (“Automatic Electric Guns”). O novo cenário foi dominado por novos fabricantes, dentre os quais se destacou a Tokyo Marui. A maior integração de mercados e culturas que vem se intensificando desde aquela época, impulsionada pelo aperfeiçoamento das telecomunicações, fez com que o Airsoft deixasse o espaço restrito do Sudeste Asiático. Hoje, um número sempre crescente de praticantes se dedica à atividade em todo o mundo.

Aos adeptos do MilSim, ou Real Action, como o chamamos por aqui (e há hoje grande controvérsia entre as classificações, que não abordaremos neste texto), o Airsoft oferece maiores vantagens que o Paintball. As armas são muito mais fidedignas, tanto em aspectos visuais quanto técnicos, que marcadoras, mesmo aquelas que receberam os mais esmerados “mods”. Podem-se utilizar os mesmos modos de tiro que as armas reais, e com os mesmos comandos e alavancas. As armas são municiadas por carregadores com o mesmo formato e funcionamento dos originais, e há os modelos que permitem o uso da mesma quantidade de munição que a arma real correspondente. Não há cilindros a carregar nem mangueiras a limitar os movimentos ou até a impedir técnicas de tiro ambidestro, por vezes necessário nas simulações de combate. O custo de manutenção e funcionamento tende a ser mais baixo, além de mais simples. A legislação brasileira, embora ainda contenha lacunas importantes a preencher – e barreiras a derrubar-, tem recentemente privilegiado o Airsoft. Junte-se a isso a existência de armas de Airsoft realmente funcionais imitando armas curtas, além de granadas, minas e “Claymores”, e temos a explicação para muitos times tradicionais de Paintball terem ponderado e resolvido migrar para a nova modalidade.
Uma alegada desvantagem do Airsoft seria a impossibilidade de marcar um adversário com “BBs” como se faz com bolinhas de tinta, o que poderia gerar episódios de dúvida ou mesmo de conduta desonesta em campo. Na verdade, os veteranos de Paintball sabem que a tinta nunca foi prova suficiente quando o jogador resolvia agir com desonestidade. O “fair-play” precisa ser ponto de honra nos times, independente do equipamento escolhido.
(*) Nota: “Réplica” é o termo de uso corrente na literatura internacional. Devemos evitá-lo no Brasil, em função da diferente concepção que dele faz a nossa legislação. A palavra não aparece no R-105, o Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados, onde consta, porém, a expressão “simulacro”. Já a Portaria 02-COLOG, de 26/02/2010, dispositivo que regula a comercialização de Airsoft, utiliza como sinônimos os termos “réplica” e “simulacro”, enquanto os define como “objeto que visualmente pode ser confundido com uma arma de fogo, mas que não possui aptidão para a realização de tiro de qualquer natureza”. Segundo a Portaria, portanto, Airsoft é “arma de pressão”.